Para uma vida não fascista

Nosso maior inimigo não é o Bolsonaro, mas o fascismo. Como escreveu Foucault, "aquele que está em todos nós, que martela nossas condutas cotidianas, que faz amar o poder, desejar essa coisa que nos domina e nos explora".

Bolsonaro é apenas um figura, e quanto mais o colocamos em evidência, mais potencializamos sua imagem. Poderia ser qualquer outro, trocar a pessoa não é o mesmo que alterar as relações de poder.

O poder é um processo muito mais complexo, sutil e menos visível, quanto supomos. Ele não afeta apenas a nossa "mente" ou "consciência", mas atravessa nosso corpo e nossas relações.

PARA UMA VIDA NÃO FASCISTA
(Michel Foucault)

Essa arte de viver contrária a todas as formas de fascismo, sejam elas já instaladas ou próximas de ser, é acompanhada de um certo número de princípios essenciais, que eu resumiria da seguinte maneira:

-Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante;

-Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal;

-Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna). Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas;

-Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável;

-Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política;

-Não exija da ação política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação;

-Não caia de amores pelo poder.


Fragmentos do texto 'Para uma vida não fascista', de Michel Foucault, publicado no prefácio da edição norteamericana de 'Anti-édipo', de Deleuze e Guattari, 1977. Tradução por Wanderson Flor do Nascimento.

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